Wednesday, February 09, 2005
Novo endereço
Como o Blogger não permite comentários de quem não seja cadastrado ao site, eu estou mudando o endereço desse blog para outro provedor. Ficção Autobiográfica agora está situado em www.ficcaoautobiografica.zip.net.
Espero vocês lá, com comentários e abraços!
Leo
Espero vocês lá, com comentários e abraços!
Leo
Monday, February 07, 2005
Blog do Rubão
Se alguém aí ainda não conhece, o blog do Sr. Rubens K., mestre de todas as coisas que nossas mães não querem que aprendamos, é esse aqui:
Qualquer merda que der na telha
Mesmo que você não o conheça, vale a pena ler o que o cara escreve. E nessa mesma linha, aproveito o espaço para indicar outros dois:
Seiszora, o blog do Boi, aka Fernando Lalli, guitarrista e vocalista do Seamus e cara muito gente fina.
Quebradêra F.C., do Flávio Jacobsen, mentor do Gruvox e um cara com a vida na alma e vice-versa.
Quando eu aprender a editar links nessa página estranha, colocarei-os com o devido destaque.
Qualquer merda que der na telha
Mesmo que você não o conheça, vale a pena ler o que o cara escreve. E nessa mesma linha, aproveito o espaço para indicar outros dois:
Seiszora, o blog do Boi, aka Fernando Lalli, guitarrista e vocalista do Seamus e cara muito gente fina.
Quebradêra F.C., do Flávio Jacobsen, mentor do Gruvox e um cara com a vida na alma e vice-versa.
Quando eu aprender a editar links nessa página estranha, colocarei-os com o devido destaque.
Peixe de briga
Em meio ao ribombar dos tambores de maracatu, abastecido por quantidades quase industriais de toda a água que incendeia a natureza e forrado por sanduíches de gosto duvidoso, um Matt Dillon interiorano traça sua luta tal qual um Rumble Fish de uma era menos romântica. Mas se seu estofo trafega entre o belo e o sórdido, o mesmo não se diz da recompensa, a luz inebriante da presença de uma sílfide que dançou em seus braços enquanto os deuses da conspiração universal se calavam ante à presença da Providência. Esse Dillon, ele mesmo, abandona as ilusões para virar Mickey Rourke e legar as visões românticas a um ingênuo que ainda acredita, mas depois de hoje, Dillon-Rourke segue essa trilha feliz e confiante. Agora ele sabe que não vai ter nenhum policial filho-da-puta para fuzilá-lo no final. Se alguém tiver que mata-lo por uma bala, será ele mesmo.
Friday, February 04, 2005
Transbordando sebo
Tô de volta ao Gordurama! Depois de um longo hiato, volto a destampar o ralo da minha alma e deixar a sujeira transbordar no mais seboso dos sites! Quem quiser ler minha resenha sobre o irresistivelmente troncho Bagana na Chuva, do Mário Bortolotto, pode vir aqui. Não ficou o melhor dos textos, mas está longe de ser dos piores. Foi a emoção.
Wednesday, February 02, 2005
Um pensamento compartilhado
Seria tão bom se eu escrevesse coisas bonitas, em vez dessas baixarias. Porém as coisas bonitas nunca me rendem beijos, abraços ou coitos sifredianos. As baixarias sim.
Um espetáculo visual. Mas o que foi que eu vi?
Chego em casa, como porcarias, mais cinco minutos e começo minha leitura de “O Crime do Padre Amaro”, só um pouquinho de TV antes. A seqüência de imagens é estarrecedora: Marília Gabriela posando de paulistana fatal em idade da loba, dezenas de ivetes sangalos se amontoando em uma praia de estúdio, uma delas até exibe o decote que mal deixa antever os seios, lésbicas light pré-fabricadas para atender fetiches mal resolvidos do imaginário nacional, bichas caricatas para disfarçar outros fetiches mal resolvidos do imaginário nacional, um ex-big brother (Big Brother não era o do livro? Ih, não dá tempo de pensar, mais um canal!) dando entrevista sobre alguma coisa, outros big brothers (mas não tem sisters? E o autor do livro, o nome? O-que-Orwell mesmo?) discutindo calhorda e apaixonadamente o próximo paredão – “paredão” virou termo corriqueiro novamente, agora tem uma socialite e aquela gostosa que o Mick Jagger embuchou, as duas fazendo a troca de elogios mais falsamente sincera que um olho humano testemunhou, mais opiniões desconexas sobre o nada em algum canal, cantores da canção nova com slogan de alcoólicos anônimos aplicado aos desvios humanos, o Pedro Bial, propaganda do Mad Maria – veja só que nome, Mad Maria, uma caricatura do Juca de Oliveira (será o próprio?), o seio desnudo da Priscila Fantin (e não podem aparecer as lésbicas?), só em filme de TV que as pessoas trepam debaixo dos lençóis, Cacá Rosset dizendo que Inri Cristo multiplicará pães, o ex-big brother de novo, a socialite falando o que não sabe sobre Rosset, um bigbrother eliminado, uma discípula do falso cristo verdureiro paranaense, ela é linda! uma maria rafaelita em seus mais doces momentos amalgamada ao meu desejo lúbrico interiorano, uma propaganda de alguma coisa, me conformei que nunca vou beijar aquela discípula de 25 anos, várias propagandas de qualquer coisa, será que era o Juca de Oliveira mesmo?, nenhuma imagem para minha imaginação punheteira (ninguém faz oral na TV, é só papai-mamãe), esboço um pensamento, me revolto contra alguma coisa, esqueci aquela coisa em que eu estava pensando, nenhuma imagem para me fazer pensar.
Nisso transcorreu-se uma hora. Ainda não comecei a ler o “padre Amaro”, e nesse ínterim, ao invés da contemplação ao tubo de imagens panteísta, poderia ter aprendido a dançar tango, beber até cair, ojerizar meu salário, rezar, produzir algo que prestasse, seduzir uma das milhares de mulheres que sonhei beijar, conversar com minha mãe, ouvir o disco ainda lacrado do Franz Ferdinand, organizar meus gibis, passear de bicicleta, contemplar as estrelas, dizer a Deus que mesmo eu sendo um chato não gosto de sê-lo, ou agradece-lo por ter recolocado a Ju no meu caminho hoje, escrever cartas, estudar espanhol, preparar aulas, limpar os poros da pele com algodão molhado, reler os mesmos livros pela décima-primeira vez, até mesmo ter começado a leitura do livro do Eça de Queiroz. (George! O nome do Orwell era George – pseudônimo, aliás. O nome era Eric alguma coisa). Mas não. Apaticamente me refastelei ao espetáculo de imagens apalermantes. Mas estou preparado. Que venham as imagens diáfanas (por que eu usei essa palavra?), que venham as imagens, que venha o que vier. Amanhã, pelo menos estarei preparado.
Nisso transcorreu-se uma hora. Ainda não comecei a ler o “padre Amaro”, e nesse ínterim, ao invés da contemplação ao tubo de imagens panteísta, poderia ter aprendido a dançar tango, beber até cair, ojerizar meu salário, rezar, produzir algo que prestasse, seduzir uma das milhares de mulheres que sonhei beijar, conversar com minha mãe, ouvir o disco ainda lacrado do Franz Ferdinand, organizar meus gibis, passear de bicicleta, contemplar as estrelas, dizer a Deus que mesmo eu sendo um chato não gosto de sê-lo, ou agradece-lo por ter recolocado a Ju no meu caminho hoje, escrever cartas, estudar espanhol, preparar aulas, limpar os poros da pele com algodão molhado, reler os mesmos livros pela décima-primeira vez, até mesmo ter começado a leitura do livro do Eça de Queiroz. (George! O nome do Orwell era George – pseudônimo, aliás. O nome era Eric alguma coisa). Mas não. Apaticamente me refastelei ao espetáculo de imagens apalermantes. Mas estou preparado. Que venham as imagens diáfanas (por que eu usei essa palavra?), que venham as imagens, que venha o que vier. Amanhã, pelo menos estarei preparado.
Saturday, January 29, 2005
Melhores de 2005 - Scream&Yell
A votação dos melhores do ano do Scream&Yell já ta no ar. Pessoalmente, acho que há algo de muito ridículo no fato de a melhor música ter sido “Festa no Apê”, do Latino. OK, seriedade em excesso faz mal, mas – porra! – é o Scream&Yell. Se não é o mais foda dos sites do ramo (e eu acho que é, modéstia às favas), pelo menos é um site cujo público espera um pouco mais. Se algum dos votantes conseguir me dar uma justificativa séria e decente para seu voto nesse estrume, eu gostaria de ler isso. Pensando bem, não gostaria, não.
De qualquer modo, a votação está no ar, e como toda a lista, é passível de discussão. Oba!
De qualquer modo, a votação está no ar, e como toda a lista, é passível de discussão. Oba!
Algumas coisas que posso dizer, enquanto outras não posso fazer
Uma das ilusões mais tolas que a maioria das pessoas nutre é a crença de que elas têm controle absoluto de suas próprias vidas. Tolice maior é achar que essa falta de controle é algo ruim. Há um timing absurdamente perfeito que rege as nossas vidas, que uns chamam de destino, eu chamo de Providência Divina e há até quem chame de acaso.
Conheci alguém com quem vivi uma puta história legal. Pretendo crer que ainda vivo uma puta história legal, ainda que num nível diferente. Com ela me realizei sexualmente, aprendi que existem benesses na intolerância (“ignorance is bliss”, sabe como é) e ainda deixei de me recostar em uns trabalhinhos bunda-mole. OK, também brigamos pra cacete e tivemos uns arranca-rabos verbais por nada. Mas quem não tem isso? Qual é, afinal, o problema de brigar um pouco? Aos politicamente corretos: ninguém está defendendo o barraco público ou a briga compulsiva. É só uma constatação que quebrar o pau de vez em quando é bom.
Pensando nessa e em outras questões cruciais nas quais ela me ajudou sem perceber (acabam sendo as melhores ajudas), só poderia ter uma enorme gratidão rebimbando nesse meu coração que está escapando dessa gaiola interiorana. Gratidão a ela, por conversar o que conversamos (assunto particular, maldito voyeur emocional!), e à Providência, que mais uma vez me entregou o que eu sequer suspeitava precisar.
Terminado esse preâmbulo formal, segue aqui o que eu realmente preciso dizer a ela:
Eu vi seus olhos me olhando com mais carinho que a maioria das outras vezes, ternura já vi em sua alma, mas a de hoje foi diferente, doce e atenciosa. Eu te vi, de perto, te abracei e desejei passar mais uma noite com você. Claro, não é nessa noite que eu vou dormir de novo ao seu lado, nós ainda não sincronizamos nossos beijos, nossas almas e nossas contas bancárias. Mas parece-me que tantos “nãos” não importam nada diante da confiança que cresceu em uma proporção que eu não experimentava há muito tempo. Aliás, pouco do que me importava antes quer me dizer alguma coisa hoje. Você me abriu os olhos para uma lentidão que eu me impunha, você me fez rir de muita bobagem e me fez gozar como eu nunca tinha gozado. E, mais de uma vez, fez com que eu me sentisse criança demais, com muito para aprender na vida e mais ainda para fazer.
As grandes mulheres têm esse efeito nos homens. Somente as grandes mulheres.
Conheci alguém com quem vivi uma puta história legal. Pretendo crer que ainda vivo uma puta história legal, ainda que num nível diferente. Com ela me realizei sexualmente, aprendi que existem benesses na intolerância (“ignorance is bliss”, sabe como é) e ainda deixei de me recostar em uns trabalhinhos bunda-mole. OK, também brigamos pra cacete e tivemos uns arranca-rabos verbais por nada. Mas quem não tem isso? Qual é, afinal, o problema de brigar um pouco? Aos politicamente corretos: ninguém está defendendo o barraco público ou a briga compulsiva. É só uma constatação que quebrar o pau de vez em quando é bom.
Pensando nessa e em outras questões cruciais nas quais ela me ajudou sem perceber (acabam sendo as melhores ajudas), só poderia ter uma enorme gratidão rebimbando nesse meu coração que está escapando dessa gaiola interiorana. Gratidão a ela, por conversar o que conversamos (assunto particular, maldito voyeur emocional!), e à Providência, que mais uma vez me entregou o que eu sequer suspeitava precisar.
Terminado esse preâmbulo formal, segue aqui o que eu realmente preciso dizer a ela:
Eu vi seus olhos me olhando com mais carinho que a maioria das outras vezes, ternura já vi em sua alma, mas a de hoje foi diferente, doce e atenciosa. Eu te vi, de perto, te abracei e desejei passar mais uma noite com você. Claro, não é nessa noite que eu vou dormir de novo ao seu lado, nós ainda não sincronizamos nossos beijos, nossas almas e nossas contas bancárias. Mas parece-me que tantos “nãos” não importam nada diante da confiança que cresceu em uma proporção que eu não experimentava há muito tempo. Aliás, pouco do que me importava antes quer me dizer alguma coisa hoje. Você me abriu os olhos para uma lentidão que eu me impunha, você me fez rir de muita bobagem e me fez gozar como eu nunca tinha gozado. E, mais de uma vez, fez com que eu me sentisse criança demais, com muito para aprender na vida e mais ainda para fazer.
As grandes mulheres têm esse efeito nos homens. Somente as grandes mulheres.
Friday, January 28, 2005
Por que eu nunca trepei com Fernando Bonassi?
Ficções como essa serão a tônica do blog. Alguns poemas e resenhas também podem aparecer. Se não gostar disso, volte daqui a uns dias. Tudo pode mudar. Por ora, leia e comente.
POR QUÊ EU NUNCA TREPEI COM FERNANDO BONASSI?
29/07/2004
Ela sempre acordava cedo nos dias de semana porque era a ela quem cabia cumprir os rituais matinais: preparar o café, acordar o filho, tomar banho, maquiar-se, acordar o marido, falso proletário, e seguir em frente com o serviço para eles e para ela própria. Afinal, ela precisava daquele trabalho. Precisava, sim, do dinheiro, mas precisava mais ainda sentir-se independente e poderosa. Ela era uma mulher moderna, passou a adolescência com seus sonhos de independência e modernidade, e cá estava ela, às voltas com isso tudo.
Mas manter a regência desse império dos sonhos pós-púberes tomava tempo, muito tempo. E esforço também, muito esforço. Às vezes se cansava, e nem mesmo os rituais importantes e necessários para se manter atualizada e "em sintonia" com seus anseios eram cumpridos (sua leitura de Marie Claire, por exemplo, estava dois exemplares atrasada). O cabeleireiro, a manicure, a academia de ginástica, as terapias alternativas - tudo tomava tanto tempo e esforço que ela se perguntava de onde tirava energia para tanta coisa ao mesmo tempo.
Até que administrava bem esse tempo, pensava ela. Afinal, suas férias eram boas. Pacotes turísticos de longos dias e preços portentosos sempre garantiam a diversão. Lugares novos e excitantes, bons hotéis, fotos magníficas, lembranças locais típicas, mais uma "segunda lua-de-mel" com o marido: era assim que cada período de férias se anunciava, e assim se cumpria. É certo que depois seguia-se a rotina assoberbante e desgastante do impiedoso cotidiano, mas esse martírio toda mulher que negava a continência mariana tinha que sofrer, era o único passaporte possível para o sucesso.
E ela via as amigas - não suas amigas, ela indaga se realmente algum dia teve uma - as outras mulheres, oprimidas por seus casamentos asfixiantes e filhos castradores. Claro que ela não era assim, não era essa a vida que ela vivia. Como poderia ser essa a vida dela? Tinha uma vida sexual movimentada, ora como não? O marido também tinha seus rituais de culto ao corpo, um übermensch da vida moderna, digno supervisor de reconhecida multinacional. Tanta saúde, disposição e dinheiro para motéis exóticos era recompensada por longos e proveitosos orgasmos. Talvez estes não fossem tantos quanto possíveis, e ele, metrossexual orgulhoso, tinha suas noites no meio das garotas ditas universitárias como um prêmio merecido por sua sensibilidade e atenção. Maridos assim não se encontram. Ainda mais que fosse um bom pai, e isso ele era - tanto que teve uma conversa franca e aberta com o rebento adolescente quando esse, precoce, foi flagrado se masturbando perante algumas fotos de tratamento de beleza em uma das Marie Claires não lidas.
E meu Deus, veja só o tamanho que esse filho está. E já se masturba! Curioso, ainda ontem ele parecia um menino. Ainda parece, na verdade, mas não é de surpreender que com um dia-a-dia tão corrido ela consiga prestar atenção nesses detalhes. Muito em breve esse menino estará aí, sujeito aos perigos do mundo. Sorte dele ter pais modernos e que sabem tão bem respeitar os limites de um adolescente e ainda educá-los para a vida cruel e perniciosa.
Ela entende também que o conceito de "pernicioso" hoje mudou. Ela já não é uma mulher reprimida, certamente não. Todas as suas emoções e vontades foram sadiamente canalizadas para uma vida sexual intensa e decente. Ela não precisa mais conviver com aquela vontade louca de beijar a moça que estudou o terceiro colegial inteiro na carteira ao lado dela. Não que ela, progressista como é, repudie o homossexualismo. É que essa coisa de ser lésbica não é um caminho social viável. Tampouco ela precisa ter aquele sonho com caralhos, centenas de caralhos. Ela sonhou assim uma vez, depois de ler uma crônica estranha do Fernando Bonassi na Ilustrada, mas ela não era mulher pra tanto pinto assim, ora. Ela podia ter prazer com o marido e ele com ela, como não? Mesmo que ainda vez ou outra aparece aquele desejo de colocar a rôla do professor de aeroboxe na boca só para sentir o gosto.
E tinha toda sua vida profissional, evidentemente. Ela tinha agora o prestígio e o respeito com que sempre sonhou, embora, se perguntada, ela não saiba dizer exatamente qual eram seus sonhos. Ela só lembra que alguém como ela, digna filha de um casal trabalhador, tinha que ser uma mulher de sucesso. Ela entrou na faculdade de Administração - parecia o curso mais viável entre suas indecisões - para isso, para ser bem-sucedida. E com seu carro novo (não 0km, mas com menos de dois anos), sempre reluzente (pagava aos serviçais do posto de gasolina para que o lavassem duas vezes por semana); com sua posição de respeito (Administradora de Fundos de Investimentos), sua jornada sempre superior a oito horas diárias; seus cursos de especialização e seu MBA à vista, ainda esse ano, ela certamente tinha sucesso. Claro, fazia tudo isso porque não desejava permanecer assim para sempre. Em pouco tempo trocaria de emprego, teria um cargo mais respeitável e poderoso, conseguiria um carro 0 km (quem sabe um Audi, ou até um outro importado), talvez até tivesse mais tempo livre para ela, embora soubesse que uma posição maior traria mais responsabilidades e reduziria suas horas disponíveis para si mesmo. Mas ela sabe que a mente vazia é oficina do diabo e o trabalho não haveria de ser um fardo. Além do mais, para quê ela pagava seu fundo de previdência privada senão para garantir uma aposentadoria tranqüila?
E na sua aposentadoria ela seria uma dessas jovens senhoras ativas, que viajam, passeiam, fazem cursos, talvez até uma cirurgia plástica; enfim, ela seria a imagem do sucesso recompensado e de beleza perpetuada.
Porém, curiosamente ela acordou hoje achando tudo isso um saco, não entendendo porque estava deitada ao lado daquele estrume tarado por garotinhas pré-colegias, e porque aturava aquele moleque espinhento, mimado e impertinente (não ocorreu a ela que fora ela quem criara aquele garoto - aliás, ela própria dera luz a ela e o batizara com o primeiro nome de um de seus ídolos, o Patrick Swayze). A única coisa que ela pensava era no sonho dos caralhos e como aquele Fernando Bonassi devia meter gostoso.
POR QUÊ EU NUNCA TREPEI COM FERNANDO BONASSI?
29/07/2004
Ela sempre acordava cedo nos dias de semana porque era a ela quem cabia cumprir os rituais matinais: preparar o café, acordar o filho, tomar banho, maquiar-se, acordar o marido, falso proletário, e seguir em frente com o serviço para eles e para ela própria. Afinal, ela precisava daquele trabalho. Precisava, sim, do dinheiro, mas precisava mais ainda sentir-se independente e poderosa. Ela era uma mulher moderna, passou a adolescência com seus sonhos de independência e modernidade, e cá estava ela, às voltas com isso tudo.
Mas manter a regência desse império dos sonhos pós-púberes tomava tempo, muito tempo. E esforço também, muito esforço. Às vezes se cansava, e nem mesmo os rituais importantes e necessários para se manter atualizada e "em sintonia" com seus anseios eram cumpridos (sua leitura de Marie Claire, por exemplo, estava dois exemplares atrasada). O cabeleireiro, a manicure, a academia de ginástica, as terapias alternativas - tudo tomava tanto tempo e esforço que ela se perguntava de onde tirava energia para tanta coisa ao mesmo tempo.
Até que administrava bem esse tempo, pensava ela. Afinal, suas férias eram boas. Pacotes turísticos de longos dias e preços portentosos sempre garantiam a diversão. Lugares novos e excitantes, bons hotéis, fotos magníficas, lembranças locais típicas, mais uma "segunda lua-de-mel" com o marido: era assim que cada período de férias se anunciava, e assim se cumpria. É certo que depois seguia-se a rotina assoberbante e desgastante do impiedoso cotidiano, mas esse martírio toda mulher que negava a continência mariana tinha que sofrer, era o único passaporte possível para o sucesso.
E ela via as amigas - não suas amigas, ela indaga se realmente algum dia teve uma - as outras mulheres, oprimidas por seus casamentos asfixiantes e filhos castradores. Claro que ela não era assim, não era essa a vida que ela vivia. Como poderia ser essa a vida dela? Tinha uma vida sexual movimentada, ora como não? O marido também tinha seus rituais de culto ao corpo, um übermensch da vida moderna, digno supervisor de reconhecida multinacional. Tanta saúde, disposição e dinheiro para motéis exóticos era recompensada por longos e proveitosos orgasmos. Talvez estes não fossem tantos quanto possíveis, e ele, metrossexual orgulhoso, tinha suas noites no meio das garotas ditas universitárias como um prêmio merecido por sua sensibilidade e atenção. Maridos assim não se encontram. Ainda mais que fosse um bom pai, e isso ele era - tanto que teve uma conversa franca e aberta com o rebento adolescente quando esse, precoce, foi flagrado se masturbando perante algumas fotos de tratamento de beleza em uma das Marie Claires não lidas.
E meu Deus, veja só o tamanho que esse filho está. E já se masturba! Curioso, ainda ontem ele parecia um menino. Ainda parece, na verdade, mas não é de surpreender que com um dia-a-dia tão corrido ela consiga prestar atenção nesses detalhes. Muito em breve esse menino estará aí, sujeito aos perigos do mundo. Sorte dele ter pais modernos e que sabem tão bem respeitar os limites de um adolescente e ainda educá-los para a vida cruel e perniciosa.
Ela entende também que o conceito de "pernicioso" hoje mudou. Ela já não é uma mulher reprimida, certamente não. Todas as suas emoções e vontades foram sadiamente canalizadas para uma vida sexual intensa e decente. Ela não precisa mais conviver com aquela vontade louca de beijar a moça que estudou o terceiro colegial inteiro na carteira ao lado dela. Não que ela, progressista como é, repudie o homossexualismo. É que essa coisa de ser lésbica não é um caminho social viável. Tampouco ela precisa ter aquele sonho com caralhos, centenas de caralhos. Ela sonhou assim uma vez, depois de ler uma crônica estranha do Fernando Bonassi na Ilustrada, mas ela não era mulher pra tanto pinto assim, ora. Ela podia ter prazer com o marido e ele com ela, como não? Mesmo que ainda vez ou outra aparece aquele desejo de colocar a rôla do professor de aeroboxe na boca só para sentir o gosto.
E tinha toda sua vida profissional, evidentemente. Ela tinha agora o prestígio e o respeito com que sempre sonhou, embora, se perguntada, ela não saiba dizer exatamente qual eram seus sonhos. Ela só lembra que alguém como ela, digna filha de um casal trabalhador, tinha que ser uma mulher de sucesso. Ela entrou na faculdade de Administração - parecia o curso mais viável entre suas indecisões - para isso, para ser bem-sucedida. E com seu carro novo (não 0km, mas com menos de dois anos), sempre reluzente (pagava aos serviçais do posto de gasolina para que o lavassem duas vezes por semana); com sua posição de respeito (Administradora de Fundos de Investimentos), sua jornada sempre superior a oito horas diárias; seus cursos de especialização e seu MBA à vista, ainda esse ano, ela certamente tinha sucesso. Claro, fazia tudo isso porque não desejava permanecer assim para sempre. Em pouco tempo trocaria de emprego, teria um cargo mais respeitável e poderoso, conseguiria um carro 0 km (quem sabe um Audi, ou até um outro importado), talvez até tivesse mais tempo livre para ela, embora soubesse que uma posição maior traria mais responsabilidades e reduziria suas horas disponíveis para si mesmo. Mas ela sabe que a mente vazia é oficina do diabo e o trabalho não haveria de ser um fardo. Além do mais, para quê ela pagava seu fundo de previdência privada senão para garantir uma aposentadoria tranqüila?
E na sua aposentadoria ela seria uma dessas jovens senhoras ativas, que viajam, passeiam, fazem cursos, talvez até uma cirurgia plástica; enfim, ela seria a imagem do sucesso recompensado e de beleza perpetuada.
Porém, curiosamente ela acordou hoje achando tudo isso um saco, não entendendo porque estava deitada ao lado daquele estrume tarado por garotinhas pré-colegias, e porque aturava aquele moleque espinhento, mimado e impertinente (não ocorreu a ela que fora ela quem criara aquele garoto - aliás, ela própria dera luz a ela e o batizara com o primeiro nome de um de seus ídolos, o Patrick Swayze). A única coisa que ela pensava era no sonho dos caralhos e como aquele Fernando Bonassi devia meter gostoso.
Comecei meu blog!
Eu comecei meu blog, coisa que até bem pouco tempo atrás eu diria que não faria. Mas o que sabia eu sobre mim, alguns dias atrás? Não que hoje eu saiba muito, mas já aceitei que jamais poderei prever meu futuro ou manter posições dogmáticas. Então, está aqui esse blog, para dar espaço às coisas que eu escrever, para depois eu curti-las, relembrá-las ou arrepender-me delas. E para quem quiser compartilhar suas opiniões comigo.
O primeiro post é um texto que eu escrevi em Curitiba na casa do grande amigo Rubens K. Só que eu estava tão cheio de conhaque & cerveja Xingu na cabeça que errei feio uns subjuntivos. Então, aqui está a versão "gramaticamente correta" da coisa. Beijos para todo mundo que gosta de ser beijado.
"Dois... ou três dias de chapação? Mas... eu não chapei – continuo quase tão sóbrio quanto cheguei. Mas não tão tolo quanto. Não sem perspectivas restritas ao emprego-casa-família-e-carro-do-ano se deus quiser. A vida vai além disso. Alguém me disse que não ter medo da vida é o passaporte para sabe Deus onde, um lugar bom, feliz e sem muito chão fixo. Seria uma pieguice do caralho não tivesse vindo das circunstâncias e da boca que vieram. Eu já não mais quantifico tempo futuro nem qualifico o passado. Tudo vai ser diferente do que jamais foi. Como sempre.
E eu sigo procurando um lugar chamado lar, um lugar que não vai estar muito além de mim mesmo e espetacularmente encoberto da minha vista.
QU&ANDO EU PERDER O MEDO DA VIDA
quando eu me levantar da cama
quando eu sair do chão
quando eu vir a porta
quando eu apoiar minhas mãos
quando eu escorregar
quando eu cair de novo
quando eu me levantar sem perspectiva
quando eu souber que há mais que o tédio
quando eu andar até a saída
quando eu girar a maçaneta
depois que eu hesitar
quando eu abrir a porta
eu terei chego
alguns dias mais perto do meu fim
e avançado alguns dias dentro de mim
(Valeu, Rubão, pela inspiração)
O primeiro post é um texto que eu escrevi em Curitiba na casa do grande amigo Rubens K. Só que eu estava tão cheio de conhaque & cerveja Xingu na cabeça que errei feio uns subjuntivos. Então, aqui está a versão "gramaticamente correta" da coisa. Beijos para todo mundo que gosta de ser beijado.
"Dois... ou três dias de chapação? Mas... eu não chapei – continuo quase tão sóbrio quanto cheguei. Mas não tão tolo quanto. Não sem perspectivas restritas ao emprego-casa-família-e-carro-do-ano se deus quiser. A vida vai além disso. Alguém me disse que não ter medo da vida é o passaporte para sabe Deus onde, um lugar bom, feliz e sem muito chão fixo. Seria uma pieguice do caralho não tivesse vindo das circunstâncias e da boca que vieram. Eu já não mais quantifico tempo futuro nem qualifico o passado. Tudo vai ser diferente do que jamais foi. Como sempre.
E eu sigo procurando um lugar chamado lar, um lugar que não vai estar muito além de mim mesmo e espetacularmente encoberto da minha vista.
QU&ANDO EU PERDER O MEDO DA VIDA
quando eu me levantar da cama
quando eu sair do chão
quando eu vir a porta
quando eu apoiar minhas mãos
quando eu escorregar
quando eu cair de novo
quando eu me levantar sem perspectiva
quando eu souber que há mais que o tédio
quando eu andar até a saída
quando eu girar a maçaneta
depois que eu hesitar
quando eu abrir a porta
eu terei chego
alguns dias mais perto do meu fim
e avançado alguns dias dentro de mim
(Valeu, Rubão, pela inspiração)